quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vítimas gastam mais 140 euros em saúde

A mulher vítima de violência doméstica tem um custo acrescido com a saúde de 140 euros por ano. O Sistema Nacional de Saúde paga 90%. Números apontados por Manuel Lisboa, director do Observatório Nacional de Violência e Género, ontem, em Coimbra.

Manuel Lisboa falava na primeira sessão do fórum "Empresas contra a Violência Doméstica", subordinada ao tema "Violência Doméstica e Condições de Trabalho". Uma iniciativa do Governo Civil de Coimbra que a secretária de Estado para a Igualdade, Elza Pais, que marcou presença, considerou "brilhante", por fornecer, pela primeira vez, um olhar sobre os reflexos da violência familiar no local de trabalho.

De acordo com Manuel Lisboa, ligado à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 15% dos custos com a saúde resultantes da violência doméstica deve-se ao absentismo no trabalho. Para que não restem dúvidas sobre o impacto do fenómeno na esfera profissional e nos cofres do Estado. "Há clara relação entre o que se passa em casa e o que se passa no trabalho", sublinhou.

Manuel Lisboa, estudioso da área, explicou que a mulher vítima de violência doméstica tem mais dificuldade em conseguir emprego e, se estiver empregada, muito menos probabilidades de ser promovido (também devido á sua debilitada auto-estima). Por outro lado, corre muito mais riscos de se despedir - por imposição do parceiro - ou de ser despedida.
Estudos demonstram, ainda, que os filhos das mulheres alvo deste tipo de violência têm maior probabilidade de adoecer.
"Hoje, deve meter-se a colher"

A violência tem custos económicos. Tanto que, segundo um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento, citado pela secretária de Estado para a Igualdade, os custos totais oscilam entre 1,6 e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação. Elza Pais não duvida: "Combater a violência doméstica é reforçar a competitividade do país".

A governante explicou que as queixas por violência doméstica aumentam, de ano para ano, porque o fenómeno tem conquistado visibilidade. E, a seu ver, isso "significa que está a ser combatido". Em 2009, foram apresentadas 30543 queixas - uma média de 84 por dia -, o que se traduz num aumento de 10,4% em relação ao ano anterior, observou Elza Pais.

"Combater a violência doméstica é combater valores enraizados e lutar pelos direitos humanos", defendeu, ainda, a secretária de Estado para a Igualdade.

O mesmo é falar no velho dito popular, segundo o qual "entre marido e mulher não se mete a colher". "Hoje, deve meter-se a colher", realçou o governador civil de Coimbra, Henrique Fernandes, sem deixar de lembrar que, antes do 25 de Abril, a Lei concedia ao homem os direitos de devassar a correspondência da mulher e autorizá-la, ou não, a sair do país.
Se, há cerca de dez anos, o número de queixas apresentadas correspondia a 1% do cenário global, dados de 2007 mostram que subiu para 12%. Mas Manuel Lisboa põe o dedo na ferida: "A maioria continua a calar".
Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1537413

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