As mulheres são as principais vítimas de
assédio sexual e moral e é da área de Lisboa e do Porto que chegam a maioria das
queixas. Estes são crimes que afetam psicologicamente os trabalhadores, mas
também as famílias.
De acordo com dados da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), os
casos de assédio moral, sexual e de violação do dever de ocupação efetiva do
trabalhador estão a aumentar: desde 2009 registaram-se 299 crimes e só no ano
passado as denúncias quase duplicaram (140).
Por detrás dos números estão muitas vezes histórias "de assédio extremamente
violentos, persistentes e continuados", alerta o inspetor geral do trabalho,
José Luís Forte, em entrevista à agência Lusa.
A advogada Rita Garcia Pereira conhece casos de quem foi obrigado a
permanecer na empresa sem secretária, computador ou telefone. Ao seu escritório
já chegaram trabalhadores desesperados a quem foram dadas tarefas inexequíveis,
como transcrever para folhas A4 toda a lista telefónica. Mas Rita Garcia Pereira
também já teve clientes aflitos por lhes terem sido atribuídas funções para as
quais não tinham qualificações suficientes.
Além dos casos extremos e facilmente percetíveis pelos colegas, o inspetor
geral do trabalho lembra que "também é assédio moral impedir as mulheres de
acompanharem os filhos ao médico ou castigá-las porque têm o azar de terem um
filho mais vezes doente do que os outros".
Os estudos revelam precisamente que as principais vítimas são as mulheres. No
entanto, lembra José Luís Forte, "também há homens e quadros técnicos atingidos
por estes fenómenos de pressão que muitas vezes têm por objetivo que o
trabalhador se despeça".
A maioria dos casos que chegam ao conhecimento da ACT acontece nos grandes
centros urbanos de Lisboa e Porto.
A psicóloga e investigadora Catarina Paulos diz que quem executa atividades
profissionais em espaços isolados ou tem horários de trabalho desfasados da
maioria dos trabalhadores está mais vulnerável a estes crimes.
O inspetor geral do trabalho explica que estes são "fenómenos subterrâneos
que muitas vezes se passam na intimidade de duas pessoas. Ou seja, dificilmente
são vistos por outros colegas e às vezes quando são vistos não são facilmente
percebidos, porque entre a aceitação e a pressão vai sempre uma diferença muito
ténue que nem todos se conseguem aperceber".
No entanto, estes crimes podem ter efeitos psicológicos devastadores. A
investigadora Catarina Paulos sublinha que "os casos de depressão são muito
frequentes".
O assédio provoca também um aumento do absentismo laboral: "Há uma diminuição
da produtividade. As pessoas não se sentem bem, começam a faltar ao trabalho e
numa situação limite podem mesmo abandonar o local de trabalho", alerta a
investigadora.
No entanto, o trabalhador não é a única vítima. Ao perderem a auto-estima, os
trabalhadores têm "tendência a isolar-se e a não partilhar as suas angústias com
a família e muitas situações podem mesmo acabar em separações e divórcios".
A crise faz aumentar este tipo de crime e por isso a ACT está a desenvolver
uma campanha de sensibilização para os efeitos psicossociais do assédio sexual e
moral, que vai estudar o que se passa na área da saúde.
"Começa-se a ter claramente a perceção de que existe este fenómeno e de que a
tendência pode ser precisamente para o seu agravamento", diz José Luís Forte,
reconhecendo no entanto que para os inspetores este é um crime difícil de
detetar e que o "ato inspetivo ainda não está muito direcionado para estas
situações".
Fonte: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2370360&page=-1
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