Um recente relatório das Nações Unidas demonstra que se no início da crise foram os homens quem mais perderam postos de trabalho, entretanto, têm sido as mulheres quem mais estão expostas a situações de desemprego. Efectivamente, as mulheres, neste momento, são quem perde mais e mais rapidamente empregos, enquanto os homens apresentam uma ténue tendência de estabilização da taxa de desemprego. Quando a crise financeira se abateu inicialmente nos Estados Unidos e a seguir na Europa, as consequências fizeram-se sentir primeiro nos sectores com mão de obra masculinizada, como a construção e indústria extractiva e só mais tarde atacou sectores tradicionalmente femininos como os serviços e a industria manufactureira, nomeadamente os têxteis. A situação, passados três anos inverteu-se claramente. No terceiro trimestre deste ano, em Portugal, a taxa de desemprego dos homens atingiu os 12%, mas a das mulheres ultrapassou largamente este valor e fixou-se em 12.9%.
A desigualdade entre homens e mulheres no trabalho não é um fenómeno novo, mas a actual crise económica tem vindo a aumentar os factores de desigualdade de género em todo o mundo. Não há dúvida de que as mulheres estão particularmente em desvantagem para lidar com a crise financeira. A sua falta de poder político e económico, consequência da sobre representatividade em empregos precários ou temporários, salários mais baixos, e o facto de serem os principais provedores do cuidado dos filhos e dos dependentes, torna-as obviamente o elo mais fraco. Por tudo isto, é previsível que sejam as mulheres a ficar ainda mais em desvantagem na recessão económica. Mas por outro lado, é preciso lembrar que esta crise é diferente de outras que aconteceram em momentos anteriores da nossa história recente, porque hoje em dia, o trabalho das mulheres, por mais precário e mal pago que possa ser é indispensável para o seu sustento e para o sustento os seus lares. O trabalho das mulheres é fundamental para a economia de qualquer país. Por isso, o afastamento das mulheres do mercado de trabalho não é uma hipótese minimamente ponderável, nem para as próprias, nem para o mercado de trabalho, nem para o sistema de segurança social nem para o sistema fiscal.
As mulheres não vão desistir do seu lugar no mercado de trabalho, nem o mercado de trabalho quer prescindir da sua força e competência laboral, mais do que provada em todos os sectores de actividade, nem o sistema contributivo ou tributário quer perder a sua comparticipação. Precisamos pois, de não perder algum optimismo e pensar que a actual situação de crise também poderá oferecer uma grande oportunidade de mudança. Mudar, por exemplo, a arquitectura do sistema financeiro global tornando-o mais atento à igualdade. Mudar, por exemplo, para um modelo macroeconómico de desenvolvimento em que a igualdade de género seja uma parte integrante. Mudar, por exemplo, a forma rígida dos papéis sociais atribuídos aos homens e às mulheres. Mudar os preconceitos.
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